Este post faz parte da blogagem coletiva do Rotaroots, um grupo de blogueiros saudosistas que resgata a velha e verdadeira paixão por manter seus diários virtuais.
Relutei bastante em escolher os temas propostos este mês no Rotaroots porque achei que nenhum se encaixava à temática do blog (já aconteceu outras vezes, mas acabo mudando de opinião). A inspiração só veio mesmo depois de ler o discurso feminista da Emma Watson, a opinião da Giza Souza sobre o Desafio Sem Make e este post da Lola, além de um desabafo da Melina sobre corpo alheio que, infelizmente, ela tirou do ar (antes que digam qualquer coisa, entendi perfeitamente o que ela quis passar).
Relutei bastante em escolher os temas propostos este mês no Rotaroots porque achei que nenhum se encaixava à temática do blog (já aconteceu outras vezes, mas acabo mudando de opinião). A inspiração só veio mesmo depois de ler o discurso feminista da Emma Watson, a opinião da Giza Souza sobre o Desafio Sem Make e este post da Lola, além de um desabafo da Melina sobre corpo alheio que, infelizmente, ela tirou do ar (antes que digam qualquer coisa, entendi perfeitamente o que ela quis passar).
Em 2012, juntamente com o querido Jeronimo Sanz, fiz uma série chamada Quatro Elementos e a última ilustração gerou alguns comentários capciosos. Sem terem sido indagadas sobre, algumas pessoas vieram até mim dizer que a figura tinha ficado feia e nariguda. Confesso que foi ali que acendi o sinal vermelho para muitas questões envolvendo minha arte. Gostaria de saber porque uma mulher com nariz fora do padrão não pode ser representada?
Sempre - desde as priscas eras da faculdade - recebi acusações por desenhar mulheres com "cara de boneca". Teve muita gente dizendo que nada do que eu desenhava valia a pena, pois qualquer um fazia. Isso me gerou um trauma de anos e uma difícil recuperação, do traço e da confiança.
Aos poucos, fui transformando minha maneira de ver a arte e as questões de gênero. O primeiro contato veio nas aulas de História da Arte (beijo, Ivana!), através dos trabalhos do grupo Guerrilla Girls. A Olímpia delas é emblemática:
Naquela época tudo era incipiente e eu estava mais para absorver o máximo de informação do que refletir sobre. Isso só aconteceu anos depois. O que tudo isso tem a ver com minha arte hoje e com a proposta do Stop the Beauty Madness, tema especial da blogagem de setembro, é que padrões de beleza existem desde os tempos mais remotos e nós, mulheres, estamos sujeitas a eles - infelizmente - na vida real e na arte.
Das mulheres com "cara de boneca" até a busca por identidade na minha arte, tenho feito um longo percurso. Posso ter começado através de estereótipos sim, como muitas outras meninas, mas o que desejo e me esforço é para colocar a figura feminina como protagonista de minhas obras. Escolher outras formas de representar essa mulher, em todos os seus matizes (branca, negra, magra, gorda, loira, ruiva, índia, cis, hétero, gay, trans*...) é algo que tem sido construído no meu repertório, com a ajuda de grupos como o Selfless Portraits das Mina, retratos comissionados de gurias reais e vontade de aprender. E isso precisa partir de mim, não de alguém disposto a apontar o dedo para o que faço, deliberadamente.
Então, convido a todxs que chegaram até aqui a parar de criticar absurdamente a arte feita por mulheres, já que os padrões seguidos há muito tempo são ditados por uma sociedade machista e patriarcal, que nos mede, nos pesa e diz o quanto valemos. Que decide se entraremos em museus como telas, meras passantes ou produtoras de arte. Essa desconstrução virá de nós, para nós. E cada uma, no seu tempo, encontrará espaço para fazer mulheres com todas as caras e corpos. De boneca ou não.
E antes que alguém venha aqui dizer "ai, mas teu texto está contraditório, porque se te diziam para parar de fazer mulher com 'cara de boneca' e tu acabou chegando a essa conclusão, eles estavam certos...", pare, agora. Porque 99,9% daquelas pessoas que me diziam isso, o faziam no intuito de que eu parasse de desenhar do meu jeito, para fazê-lo do jeito delas. Aí reside o x da questão, pois novamente é um padrão que se estabelece. E decidir como representarei minhas mulheres diz respeito a mim e às minhas referências. Daí a importância da desconstrução interna desses estereótipos impostos desde sempre. Ok?! ;)
Abraços,
Lidiane :-)
Aos poucos, fui transformando minha maneira de ver a arte e as questões de gênero. O primeiro contato veio nas aulas de História da Arte (beijo, Ivana!), através dos trabalhos do grupo Guerrilla Girls. A Olímpia delas é emblemática:
Naquela época tudo era incipiente e eu estava mais para absorver o máximo de informação do que refletir sobre. Isso só aconteceu anos depois. O que tudo isso tem a ver com minha arte hoje e com a proposta do Stop the Beauty Madness, tema especial da blogagem de setembro, é que padrões de beleza existem desde os tempos mais remotos e nós, mulheres, estamos sujeitas a eles - infelizmente - na vida real e na arte.
Das mulheres com "cara de boneca" até a busca por identidade na minha arte, tenho feito um longo percurso. Posso ter começado através de estereótipos sim, como muitas outras meninas, mas o que desejo e me esforço é para colocar a figura feminina como protagonista de minhas obras. Escolher outras formas de representar essa mulher, em todos os seus matizes (branca, negra, magra, gorda, loira, ruiva, índia, cis, hétero, gay, trans*...) é algo que tem sido construído no meu repertório, com a ajuda de grupos como o Selfless Portraits das Mina, retratos comissionados de gurias reais e vontade de aprender. E isso precisa partir de mim, não de alguém disposto a apontar o dedo para o que faço, deliberadamente.
Então, convido a todxs que chegaram até aqui a parar de criticar absurdamente a arte feita por mulheres, já que os padrões seguidos há muito tempo são ditados por uma sociedade machista e patriarcal, que nos mede, nos pesa e diz o quanto valemos. Que decide se entraremos em museus como telas, meras passantes ou produtoras de arte. Essa desconstrução virá de nós, para nós. E cada uma, no seu tempo, encontrará espaço para fazer mulheres com todas as caras e corpos. De boneca ou não.
Vai ter mulher de todo tipo e, se reclamar, vai ter mais. |
Abraços,
Lidiane :-)
Oi, Lidiane, tudo bem? :3 Ótimo o tema de seu post, traz reflexão e tals ^^ Sei lá, acho que o desenho é seu e você deve representá-lo como quiser mesmo, é a sua forma de expressão, não a dos outros ;) Eu adoro a maioria das suas obras, você é muito talentosa =D
ResponderExcluirEu acho que a sociedade é muito levada por stereo-tipos e padrões de beleza, tanto mulheres, quanto homens, sei lá, cada um é bonito a sua maneira, além do mais, depende muito da época também. Para mim, o importante é ser saudável, independentemente da sua aparência ou tipo de corpo.
Também acho que as mulheres deveriam ter mais voz na arte, aquelas porcentagens são absurdas...
Não vou mentir que dependendo do desenho, eu o julgo pela beleza do personagem, sei lá, acho que é algo automático mesmo, mas eu odeio preconceito e tento ao máximo evitá-lo.
Bom, esse comentário ficou meio confuso, mas espero que tenha entendido haha Mais uma vez, ótimo post =D
Beijos =)
Oi Camila! Tudo bem :)
ExcluirJá disse que adoro os teus comentários, pois são super completos e engajados, fico muito feliz em responder ;)
Quis trazer essa reflexão porque vejo que muitas meninas já passaram pelo que passei e estamos imersos numa cultura que vive nos mostrando como devemos ser, agir, vestir... e isso precisa ser desconstruído.
Também acredito que todos somos belos à nossa maneira, e temos liberdade para expressar isso como bem entendemos através da nossa arte, por isso é importante lembrar que não existe certo e errado de um jeito tão delimitado, existe repertório, cultura, prática, coisas que adquirimos aos poucos e que moldam o nosso estilo. E esse processo não pode ser interrompido por alguém ditando arbitrariamente o que devemos fazer.
Como bem disseste, é algo que atinge tanto mulheres quanto homens, mas as mulheres são ainda mais atingidas por esse sistema. Não julgar o trabalho dos outros superficialmente já é um começo, afinal, tem espaço pra todo mundo.
Obrigada pelo carinho e um grande beijo :**
Obrigada, eu fico muito feliz que você goste deles haha ;3
ExcluirInfelizmente é verdade, acho que todo mundo já passou por isso pelo menos uma vez nada vida =( Pois é, precisa mesmo ser desconstruído, prejudica tantas pessoas -.-
Sim, verdade, sei lá, cada um é cada um, e tem uma forma diferente de ser, e eu acho que todos deveriam respeitar isso ><
Concordo, acho que se cada um fosse valorizado pelo que gosta de fazer, o mundo seria um lugar melhor.
De nada ;) Obrigada pelo carinho em responder também, foram muito sábias as suas palavras ^^ E um grande beijo também haha :3
Obrigada, flor! Um grande beijo pra ti, se tu procurar por "stopthebeautymadness, vai vir outros posts feitos por outras blogueiras que participam do Rotaroots, e estão todos bem legais!
Excluir:**