Coisas que minam o processo criativo

17/12/14

Chifres...
Desde que publiquei este post, no qual falo da importância cada vez maior de registrar os meus processos, algumas pessoas me pedem para transcrever a listagem que está no caderninho que aparece na foto, então aqui vai um compilado do que contribui para minar meu processo criativo. Lembrando que são coisas que fui percebendo ao longo dos anos, a partir da minha experiência pessoal, então o que é ruim pra mim, pode não ser para outro.

1. Cansaço: às vezes eu vejo postagens, principalmente no Face, de pessoas que dizem "se você realmente ama o que faz, supera todos os obstáculos e blá blá blá"... mas cansaço físico e mental é algo que realmente influencia no trabalho criativo. Tem dias que eu realmente quero ilustrar, experimentar mil coisas novas, mas aí encaro uma rotina cheia de atribulações, e quando chego em casa o ânimo não aparece. Tentar não se abater com isso é muito difícil.

2. Falta de foco: ter um caderno de organização me ajudou bastante, ao longo do ano, a ter foco no que precisava fazer. Até a decoração do ateliê contribuiu para o meu rendimento, pois separei em quatro pranchetas, logo acima da mesa, imagens que me inspiram, esboços para finalizar, trabalhos em andamento e listagem de tarefas gerais.

3. Ambiente inadequado: tive uma longa caminhada até deixar meu espaço do jeito que queria, não só por estética ou ~ostentação~, mas para que eu me sentisse acolhida e inclinada a trabalhar. Ter uma cadeira confortável, uma boa mesa e prancheta, iluminação (cobertor no inverno, ventilador no verão), refletem na qualidade do trabalho e também na qualidade de vida.

4. Refação: ninguém merece cliente que vive pedindo alteração na ilustra, principalmente se ela é feita com técnicas tradicionais. Por isso, é importante estabelecer em contrato quantas são possíveis e estipular um valor por alteração, caso exceda o número permitido.

5. Maus hábitos: outubro foi um mês muito importante sob vários aspectos, ainda mais porque consegui abandonar em 80% o velho hábito da procrastinação. Fazer desafios de desenho, cumprir metas e dar um tempo nas redes sociais ajuda a eliminar esses cacarecos que só atrapalham a criatividade.

6. Job ruim: não adianta, tem coisa que é chata de fazer e, nessas horas, a gente pensa nas contas vencendo, naquele estojo de lápis maravilhoso que pode ser comprado com o dinheiro daquele trabalho, no cineminha do final de semana, enfim, tocando a vida.

7. Caraminholas que os outros colocam na sua cabeça: esses dias li o texto de um ilustrador, com recomendações para quem está começando, e uma delas era "não peça opinião em grupos do Facebook, você deve ser capaz de saber se o seu trabalho está bom ou não". E dependendo do que você está fazendo, concordo com o que ele disse. Essa facilidade de comunicação às vezes gera um ruído no processo criativo. É como você estar se esforçando para representar, por exemplo, cabelos cacheados, e receber uma enxurrada de críticas que em nada vão acrescentar, do tipo "ainda não está bom". Procure grupos e pessoas que realmente estão dispostas a te ajudar (diferente de jogar confete, diga-se de passagem). Criar é um processo íntimo, que requer referências e construções, desconstruções e reconstruções constantes em nossa mente, então cerque-se do que vai fazer diferença ao longo da sua caminhada.

***

Para fechar esse post, gostaria de compartilhar o documentário Mulheres Desenhadas, desenvolvido pela Raquel Vitorelo, para o Curso de Comunicação e Multimeios da PUC-SP. O vídeo mostra a experiência de mulheres que desenham e contou com a colaboração de 59 artistas, que enviaram seus autorretratos. No Tumblr do projeto, é possível ler depoimentos e ter uma dimensão do processo criativo de desenhar, ser desenhada e se autodesenhar. Um trabalho lindo lindo, que merece ser divulgado e mostra que não está morta quem peleia. Parabéns, Raquel!


Abraços,
Lidiane :-)

Comentários

  1. Olá Lidiane, tudo bem?

    Excelente post e pontos interessantíssimo levantados, estou dentro do cansaço, é o maior obstáculo que tenho, a questão da refação, eu acredito que independente do tipo tradicional ou digital é sempre muito stressante refazer, alterar, e olha que muitas as vezes o desenho perde a referencia inicial e acaba sendo até um fardo finalizar, perde o brilho da criação, como dizemos aqui na arte não tem nem mais "tesão" de fazer.

    Este documentário ficou muito bom, tenho lido muito a respeito deste assunto e realmente estamos numa caminhada muito longa até chegarmos a um reconhecimento e na igualdade e isso é em tudo, acho até que conversamos sobre isso não é? Esta ligação estereotipada da representação feminina apenas como objeto. Acredito que iniciativas são grandes passos para uma conscientização e valorização das mulheres, coisas assim me animam muito e me faz acreditar que tem como ser modificado tudo que se gerou ao longo do tempo e que esta quebra de conceitos retrógrados vai se dissipar.

    Grande abraço e parabéns pelo post muito bom mesmo ;)

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    1. Oi Dali! Tudo bem :)

      Eu gosto de fazer esses posts para dividir minhas angústias e experiências porque, às vezes, outras pessoas também sofrem os mesmos perrengues. E essa época do ano é cruel, né?! Já estamos cansadas e sempre vem um trabalho que parece sugar as energias.

      Sim, já discutimos sobre isso, e fico muito encantada com esse tipo de iniciativa, assim como o Lady's Comics, o Desenquadradas, dentre outros, que buscam romper a barreira que separa as mulheres do reconhecimento no mercado artístico. E não é algo, infelizmente, restrito ao "grande mercado". Moro numa cidade pequena e isso já acontece. É muito mais fácil eu ter visibilidade fora daqui do que no próprio círculo cultural da cidade.

      Mas, aos poucos, as mulheres estão se fortalecendo e ainda sonho com o dia de conseguir montar um coletivo artístico feminino forte o suficiente para quebrar com as estruturas do patriarcado ;)

      Muito obrigada pelo carinho, grande beijo :**

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  2. Oi, Lidiane, tudo bom? =) Gostei do tema do post : 3 Acho que todas essas coisas atrapalham meu processo criativo (tirando a refação), não só no desenho, mas na escrita e em outras coisas também. Eu realmente preciso procrastinar menos -.- Que bom que você conseguiu diminuir em 80% :D o.O

    Sobre o vídeo, eu achei muito interessante : 3 (Apesar de em raros pontos eu não concordar completamente). Foi uma ótima iniciativa ^^

    Beijos :) Desculpe pelo sumiço...

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    1. Oi Camila, tudo bem! :)

      Fico feliz que tenhas gostado do tema, muita gente sofre das mesmas coisas, então é sempre bom compartilhar as nossas experiências. Estou tentando ser menos preguiçosa e isso é bom :D

      Legal o vídeo, né?!

      Beijokas :**

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  3. Ai, Lidy, concordo demais contigo! O que mais tem me atrapalhado ultimamente é o maldito celular com as redes sociais sempre à disposição. O ambiente de trabalho quase sempre bagunçado é outro empecilho :~ Espero que em 2015 a gente consiga se livrar de todas essas coisas ruins!

    Beijinhos, lindona!

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    1. Eu sempre faço um esforço para ficar longe das redes sociais enquanto trabalho, mas nem sempre é possível (ah, aquela vontade de compartilhar o #wip kkkk), mas 2014 foi um ano de muito aprendizado sobre processo criativo, com certeza as coisas ruins ficarão no passado! u.u

      Beijokas :**

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  4. Oi Bella!
    Eu tento não me cobrar tanto quanto fazia até um tempo atrás. Rotina e cansaço são coisas comuns do dia-a-dia, acontecem, não tem como evitar. E se a gente começa a encarar o desenho como uma obrigação, aí fica mais difícil destravar.
    Ontem mesmo fiz faxina, e deixei de lado tudo que tinha programado. É melhor, porque quando volto para os desenhos, estou sem preocupações. Então tenta criar uma rotina de trabalho que tu possa dividir entre as coisas maravilhosas da Papel Pitanga e os desenhos, assim não fica sobrecarregada. ^^
    Beijão :*

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